terça-feira, 26 de outubro de 2021

A Receita Para Se Tornar Um Mestre (Fraudulento)!

 



Olá pessoal! Depois de algum tempo sem uma postagem eu estou de volta! Hoje eu vou compartilhar com vocês um texto que foi inspirado em um vídeo de Marco Gimenez, do canal no YouTube Núcleo Dharma. No final deste artigo estará o vídeo para o caso de vocês desejarem assistir: ele está em português do Brasil.

 

Introdução

Marco Gimenez treinou judô e kung fu por anos de sua vida, chegando à faixa roxa dentro do judô e ao grau de mestre no kung fu. Dentro do kung fu ele teve experiências desagradáveis e baseado nelas, montou um vídeo cujo título é “Guia para se tornar um GRANDE Mestre!” no qual este texto foi inspirado. Abaixo os principais pontos do vídeo:

 

Como Ser Um “Grande Mestre”:

1.        Mudar de país.

Os mestres fraudulentos nunca deixam de ter sotaque e o alfabeto de seu país de origem é diferente do utilizado no país em que ele está.

Lembram-se do Superman? Em Krypton ele era apenas mais um. Na Terra as suas origens dão à ele poderes de um deus. O efeito pretendido é o mesmo para mestres em artes marciais: ser de fora oferece “poderes especiais”.

Quase sempre os mestres utilizam roupas exóticas que tenham as suas origens em seu país natal e validam a sua arte marcial com uma cultura antiga e que mal existem registros dela.

 

1.   Seleciona pessoas que tenham alguma carência.

Essa carência pode ser de:

·        Instrução (os melhores).

·        Atenção.

·        Status (status rápido).

Os mestres uniformizam esse pequeno grupo com roupas típicas de sua terra natal. Depois eles distribuem status no grupo: quem faz parte dele é especial, pois está aprendendo técnicas milenares (mesmo que elas não sirvam para nada ou nunca sejam postas à prova...).

 

2.   Conta histórias à respeito da sua arte marcial, mas evita que a mesma seja colocada à prova.

O mestre nunca permite que a sua arte marcial seja colocada à prova. Se vai testar alguma técnica, testa a mesma com alunos devotos: e assim obtém êxito! (contém ironia)

 

3.   O mestre fraudulento se associa a um grupo de pensamentos parecidos ao dele ou a uma associação internacional.

Ser associado dá ao mestre maior credibilidade (-“Nós somos federados!”). Se a associação tiver nome internacional, melhor ainda!

Se não conseguir se associar a uma federação internacional ou nacional mesmo, o mestre fraudulento cria uma, afinal apenas alguns pré-requisitos legais devem ser cumpridos e pronto! Importante: ele cria um logo, de preferência com um animal, mesmo que ele não tenha nada à ver com a sua cultura ou arte marcial de origem...

 

4.   Tendo nome e volume, o mestre fraudulento procura autoridades locais.

Ele procura normalmente um vereador ou deputado estadual que precisa de votos. O interessante é que o mestre fraudulento não precisa nem ter um número grande de pessoas em sua associação/escola, mas precisa aparentar ter!

 

5.   Aparece na mídia.

O mestre fraudulento ao aparecer na mídia, dá um grande passo para o seu sucesso. Ele não mostra nada muito direto, é exótico perante às câmeras e apresenta armas também exóticas e complicadas.

Para aparecer na mídia, basta ter bons contatos e na ausência deles, pagar para que isso aconteça. Não conseguiu aparecer na mídia? Não conseguiu aparecer em uma revista? O mestre fraudulento cria a sua própria revista!

 

6.   Traz amigos de sua terra natal para ministrar cursos.

O mestre fraudulento traz “grandes” nomes de sua terra natal para ministrar cursos em sua escola (mesmo que ninguém conheça o tal amigo e nem se tenha registros dele). Ele valida com histórias, técnicas e termos. Ele cobra caro e recebe uma porcentagem.

Ao fazer esse último ponto, o mestre fraudulento cria uma comunidade ao redor dele.

 

7.   Cria uma competição interna.

As competições sempre são entre pessoas que praticam a mesma coisa (ele nunca deixa que outras artes marciais compitam). O mestre fraudulento, se possível distribui prêmios do primeiro ao vigésimo lugar, nem todos podem ganhar: afinal como os alunos dele vão se sentir especiais, isto é, melhores do que os outros? Ele cobra caro pelas competições, tira muitas fotos e expõe tudo nas redes sociais.

 

8.   Elege um aluno como bode expiatório.

Em algum momento, algum aluno mais inteligente que a média vai perceber que o mestre fraudulento é de fato uma fraude! Então o mestre (fraudulento) elege esse aluno como bode expiatório: destrói a reputação do dito aluno, humilha-o perante todos, nega-lhe graduações e depois de um tempo, expulsa-o de sua escola/franquia. O intento de não expulsar logo o questionador é simples: mostrar para os outros alunos o que acontece com quem questiona o mestre.

Quando é questionado ele não responde a pergunta, ele (o mestre fraudulento) mostra que a pergunta não deve existir.

 

9.   Tem amizade com mestres de outras artes marciais...

“...mas a nossa arte marcial é a melhor, a mais tradicional, a mais isso, a mais aquilo...”. O mestre fraudulento sempre se mantém como uma espécie de ponte entre o conhecimento exótico e a ignorância dos alunos.

 

10.      O mestre fraudulento pode vir a montar a sua loja.

Nem todo mestre fraudulento faz isso. Mas alguns montam uma loja para vender roupas com o logo de sua escola, equipamentos de treino (de péssima qualidade), armas, produtos que não possuem nenhum teor com a arte marcial (como baldes e escovas...) e por aí vai. O mestre vende a sua marca, técnica é detalhe...

 

11.     O mestre fraudulento cria graduações difíceis de atingir... no início!

Faz os alunos sangrarem (sem aspas mesmo) para atingirem aquela graduação final (a famosa “faixa preta”). Somente quem se dedica de corpo, alma e bolso atinge a tal graduação, mas claro: com o passar do tempo os requisitos mudam e apenas aqueles que se dedicam de bolso conseguem atingir a dita graduação! Afinal com mais graduados, é possível ampliar a sua base de instrutores e assim obter vantagens em participações da franquia.

 

12.    Quando tem dissidentes, o mestre fraudulento os chama de “traidores!”.

O mestre acusa os que saíram de fazer com os alunos aquilo que ele mesmo faz! Mantém os filiados no cabresto, sempre!

 

13.    O mestre fraudulento sempre faz seminários.

Sempre são feitas mudanças de técnicas e a inclusão de outras. E essas técnicas nunca servem para nada, pois assim não podem ser colocadas à prova. Ele cobra caro pelos seminários e obriga os alunos a participarem, “-Afinal, você é do grupo ou não?!”. Sem seminários uma franquia de artes marciais não existe.

 

14.    Quando um aluno de um mestre fraudulento se dá mal em uma luta...

...ele põe a culpa no aluno afinal: -“O método é infalível!”. Se o aluno vence, o mérito é do professor, o mestre fraudulento sempre trabalha com a seguinte fórmula: o sucesso do aluno é dele e o fracasso é culpa do aluno.

Com o passar do tempo, o mestre fraudulento terá uns seis “pitbulls” que sabem o que está fazendo e uma imensa massa que não consegue fazer nada, mas isso não importa: se alguém desafiar a sua escola, o mestre fraudulento envia o desafiante para o pitbull e nunca para aquele aluno que está há anos treinando e que não consegue se sair muito bem (por culpa dele mesmo, claro...).

 

15.    O mestre fraudulento cria festas temáticas de sua cultura natal.

E essas festas temáticas são normalmente abertas ao grande público.  O evento sempre enaltece o mestre, como se ele fosse o único representante da cultura de sua terra natal. Neste evento ele vende espaço para comércio, apresenta amigos dele como grandes mestres e às vezes enaltece um ou outro aluno, criando uma nova forma de status entre os seus alunos/discípulos.

Usando essas festas temáticas, o mestre fraudulento reforça que apenas ele é a única autoridade sobre o assunto: somente ele é autorizado a falar, ensinar, formar alunos ou seja mais o que for.

 

16.    Se essa fórmula se desgastar, o mestre fraudulento se reinventa...

Ele (o mestre fraudulento) traz algo mais ancestral, algo mais raiz, algo mais. Não importa o que. Ele aproveita toda a estrutura já montada para abrir outro negócio extremamente lucrativo.

 

17.    Se alguém tenta abalar as estruturas de seu negócio, o mestre fraudulento...

... tenta compra-lo. A maioria está à venda, menos os que possuem como valores: a moral, a ética, a honra, a decência e a verdade, esses são caros demais para serem comprados...

 

Autoria: Marco Gimenez.

Organizador: Raphael Galdino da Iniciativa Casa dos Cavaleiros.

 

Como prometido, o vídeo que inspirou este artigo: