segunda-feira, 25 de abril de 2022

Diálogo Sobre HEMA #1

 


 

Pedro tocava teclado em uma certa igreja, enquanto que Eugênio servia como um introdutor, isto é, uma espécie de mordomo dentro da instituição. Certa noite durante o intervalo que ambos compartilhavam durante os seus afazeres ministeriais, eles começaram a conversar como de sempre, porém eles entraram em um tema que nunca antes haviam falado: o HEMA!

 

************

 

Pedro: então, eu sou um aficionado por Star Wars e eu amo as lutas com sabres de luz!

 

William: eu também gosto, embora eu não compreenda direito a história.

 

Eugênio: eu também gostava das lutas de sabre de luz, porém quando eu comecei a estudar e praticar HEMA, isto é, Historical European Martial Arts, eu passei a enxergar um monte de erros nas lutas, erros estes que iriam levar os duelistas para o seu fim...

 

Pedro: então, Eugênio, isso ocorre porque é uma encenação, embora o estilo de luta de cada trilogia tenha mudado bastante. Na Trilogia Original (Episódios IV, V e VI) o George Lucas inspirou-se no kendô para efetuar as lutas de sabres de luz. Nas prequels (Episódios I, II e III) ele inspirou-se nas formas chinesas de se lutar com armas e nas sequels (Episódios VII, VIII e IX) ele se inspirou... é, deixa eu pensar...

 

Eugênio: se bem me recordo, amigo, foi no kali...

 

Pedro: isso! Exato!

 

William: bem gente, eu preciso ir...

(após isso, ele levanta-se e sai do local)

 

Eugênio: sabe Pedro, eu sei que você treina karatê e é um entendido em artes marciais nipônicas, porém você deveria estudar HEMA, pois ele é as nossas raízes ocidentais.

 

Pedro: sim, você me falou um pouco sobre HEMA em uma outra ocasião... vocês possuem algum manual para estudar HEMA?

 

Eugênio: bom, normalmente, nós começamos os nossos estudos por um desses mestres, Fiore dei Liberi, Filipo di Vardi e Joaquim Meyer, eles possuem manuais que são estudados por todos nós. No momento eu possuo o manual de Fiore, chama-se “Fior di Bataglia” em italiano medieval...

 

Pedro: ah, eu sou louco por esses idiomas medievais, gostaria muito de aprendê-los!

 

Eugênio: de fato, são interessantes... então, o Fior di Bataglia é um manual enorme, o mais vasto de artes marciais do período medieval, para ser mais exato. Ele contém lutas com bastão, adaga, lança, espada – e devo dizer que são três formas de esgrima, espada com armadura (que é uma dinâmica), espada com uma mão e sem escudo...

 

Pedro: sei, essa aí é espada com duas mãos, certo?

 

Eugênio: não, é na verdade espada com uma mão e sem armadura, e depois disso é quem vem a espada de duas mãos, exatamente como você falou.

 

Pedro: ah, tá...

 

Eugênio: além disso, no Fior di Bataglia existe também uma seção que fala sobre como lutar montando à cavalo...

 

Pedro: nossa!

 

Eugênio: pois é... e tem também uma parte que fala sobre uma arma chamada acha. Acha em português, em francês é “hache” e em italiano medieval ela se chama “azza”. Percebes como a grafia se assemelha?

 

Pedro: sim, as pronúncias são parecidas...

 

Eugênio: claro, elas são línguas latinas ou que derivam do latim, logo existe essa similariedade.

 

Pedro: isso. Como se parece essa arma, a acha?

 

Eugênio: bom, você encontra ela com referência em fantasia medieval, mas com outro nome, “martelo de batalha ou de guerra”.

 

Pedro: ah sim, eu sei qual é!

 

Eugênio: pois então, esse nome simplesmente não existe, o nome correto é acha, ao menos em nosso idioma. Em inglês ela se chama polaxe.

 

Pedro: entendo...

 

Eugênio: a maior parte do Fior di Bataglia aborda a adaga, afinal ela era uma arma importantíssima para os cavaleiros, pois era com ela que se matava um cavaleiro...

 

Pedro: claro, e elas eram veladas com facilidade, certo?

 

Eugênio: não, pior que não...

 

Pedro: como isso?

 

Eugênio: as adagas medievais tinham entre 40cm e 60cm de comprimento, impossível velar algo assim. Olhe para a minha coxa, ela possui cerca de 40cm de extensão...

 

Pedro: é de fato impossível velar algo assim...

 

Eugênio: pois é... o formato dela, o seu desenho era tal, que ia afinando do cabo até a ponta de tal modo que permitia ao seu usuário penetrar entre os vãos da armadura de um cavaleiro e assim mata-lo.

 

Pedro: poxa!

 

Eugênio: nós do HEMA não estudamos apenas como usar as armas, mas também o contexto histórico delas. Procuramos ler crônicas que falam à respeito do uso delas em combates.

 

Pedro: ah sim.

 

Eugênio: por exemplo, como sabemos que as adagas eram utilizadas desse modo, isto é, para matar cavaleiros? Vou te contar uma história e será rápida, a Batalha de Bouvines, conhecida como “a batalha que fundou a França”.

Após derrotar João Sem-terras e expulsá-lo da maior parte da França, o rei da França, Filipe Augusto envolveu-se em uma batalha contra o imperador romano-germânico Oto, ou Otão, os dois nomes estão corretos. Eles se enfrentaram em um campo de batalha no extremo norte do Reino da França, o rei da França se estribavam na sua cavalaria pesada, enquanto que os germânicos se apoiavam na infantaria pesada.

Começando a batalha, a infantaria pesada germânica facilmente bateu a infantaria francesa que era formada por camponeses recrutados às pressas, porém as alas francesas eram da cavalaria e estas avançaram pelos flancos e deu-se uma situação que normalmente não ocorria em uma batalha, que era os exércitos misturar-se.

O rei Filipe Augusto estava pessoalmente comandando a ala direita com os seus cavaleiros e acabou tendo que defrontar-se contra os germânicos pessoalmente. Quando a infantaria pesada soube que o rei da França estava ali, em peso foram para cima dele e os seus guardas pessoais não conseguiram dar conta da pressão e cederam, fazendo com que o rei tivesse que lutar para ter que viver.

O rei estava montado à cavalo, afinal ele era um cavaleiro.

 

Pedro: certo!

 

Eugênio: então em dado momento, Filipe Augusto foi derrubado de seu cavalo e os infantes germânicos neste momento, jogaram as suas armas fora e sacaram as suas adagas. Através deste exemplo, ficamos sabendo como se usava uma adaga e em qual momento.

 

Pedro: percebi. Interessante essa história toda, explicou perfeitamente bem em qual contexto se utilizava a adaga!

 

Eugênio: sim, e só para saber, como isso tudo terminou, o rei que era um guerreiro valente, recobrou-se da queda e lidou com os germânicos. Além disso a sua guarda conseguiu recompor-se e um cinturão defensivo ao redor do rei da França foi feito. Filipe poderia ter fugido, porém ele continuou no campo de batalha, diferente do imperador Otão, que atacado pelos cavaleiros da ala esquerda, viu-se cercado e fugiu, abandonando o seu exército, que fugiu logo atrás...

 

Pedro: hehehe!

 

Eugênio: infelizmente eu não me recordo a qual senhor, Fiore servia, o manual que ele criou era a compilação de todo o conhecimento marcial dele, por isso se chama “Fior di Bataglia”, que em uma tradução literal, quer dizer “a flor da batalha”, ou “o melhor da batalha”. Eu me lembro apenas que era o marquês de um dos Estados Centrais da Itália Medieval. E só.

 

Pedro: entendi.

 

Eugênio: sobre o mestre Filipo di Vardi, ele serviu à mesma família que Fiore também serviu, porém com uma diferença de quase cem anos. O manual de Fiore certamente inspirou o manual de Filipo, pois muito do que está no Fior di Bataglia, também encontra-se no manual de Filipo de Vardi. É quase certo que o manual de um serviu como base para a construção do outro.

 

Pedro: ah sim, então é quase certo...

 

Eugênio: isso. Claro, que existem adições dele próprio, por exemplo, lembra do filme Cruzadas?

 

Pedro: com o Harold Bloom como o protagonista junto com o Liam Nelson?

 

Eugênio: esse filme mesmo!

 

Pedro: sim, eu me lembro!

 

Eugênio: então, lembra daquele movimento, que o barão de Ibelin, interpretado pelo Liam Nelson, ensinou para o Baelian?

 

Pedro: lembro!

 

Eugênio: então, ele se chamava Posta di Falcone, ou Guarda do Falcão. Ele é um movimento real e que de fato existiu. Ele encontra-se no manual de Filipo de Vardi, ele não foi inventado para o filme não...

 

Pedro: dessa vez falaram a verdade! (risos abafados)

 

Eugênio: sim, dessa vez! (risos)

Seja como for, ela é uma “posta” ou guarda própria para defesa e contra-ataque.

 

Pedro: ah sim, afinal as guardas servem para defesa, certo?

 

Eugênio: não exatamente meu caro, a palavra “posta” que quer dizer “guarda”, não se refere ao mesmo uso que se faz nas artes marciais orientais. Por guarda entenda-se, uma base ou postura de onde parte-se para uma ação, seja ela ofensiva ou defensiva.

 

Pedro: entendi...

 

Eugênio: então a Posta di Falcone serve para defender o esgrimista de “ataques vindos de todos os caminhos”, nas palavras do mestre Filipo de Vardi.

 

(neste momento, Pedro dá um leve sorriso, bastante satisfeito)

 

Eugênio: bom, estes dois mestres, Fiore e Filipo são italianos e serviram aos mesmos senhores em um espaço de quase cem anos, mais precisamente, Fiore serviu no início do século XV e Filipo no final deste mesmo século e início do século XVI. Mas também existe o mestre Joaquim Meyer, ele era germânico e era do meio do século XVI. Eu já falei demais sobre HEMA e nós temos um serviço para terminar, você como tecladista e eu como introdutor.

 

Pedro: sim, eu já ia falar sobre isso. Vamos logo mais, os meus minutos de intervalo estão no fim, mas ainda não acabaram.

 

Eugênio: ok, mas independentemente de qual mestre você escolha estudar, eu sempre aconselho que um iniciante em HEMA estude o tratado de Vegécio, o Epitoma Rei Militari, pois todo o conteúdo marcial da Idade Média, foi construído em cima dos textos de Vegécio.

 

Pedro: e quem é ele?

 

Eugênio: Vegécio? Um historiador romano que escreveu por volta do ano 400 d.C. Em fins do século IV d.C, o exército romano não estava mais combativo do mesmo modo que outrora, tanto é verdade que no século V d.C, os bárbaros germânicos tomaram o Império...

 

(Pedro sorri neste momento)

 

Eugênio: Vegécio tentou evitar a falência total das legiões romanas. Ele tinha acesso aos escritos de historiadores romanos que infelizmente perderam-se com o passar dos séculos. Através desses escritos ele conseguiu descrever como funcionava a Legião Romana em seus tempos áureos, isto é, no século I d.C, nos tempos dos Doze Césares.

Como recrutar um soldado, como treiná-lo, como marchar e muitas outras coisas do tipo.

 

Pedro: infelizmente eu vou ter que partir, os poucos minutos que nos restavam acabou.

 

Eugênio: também era apenas isso o que eu tinha para te dizer. A minha fala findou na hora certa. O que mais eu falasse seria um desperdício de tempo e saliva. Em outra ocasião eu trarei alguns dos meus livros para que você os veja e possa saber para que me serve no estudo do HEMA.

 

Pedro: falou!

 

Eugênio: agora vamos, nós somos servos imprescindíveis no altar.

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Análise do Livro: The Sherlock Holmes school of Self-Defence - The Manly Art of Bartitsu as used against Professor Moriarty

 


 

 

Saudações! Hoje veremos este livro que é a mais confiável fonte que possuímos à respeito do Bartitsu, a arte marcial para cavalheiros britânicos. Se você não sabe o que é o Bartitsu, eu recomendo a leitura deste artigo aqui.

 

 

Aspectos Físicos

O livro em questão possui um bom aspecto físico, sendo em capa dura, tendo as folhas (páginas) costuradas e uma folha de guarda bem feita. Detalhe: o livro foi impresso na China.

 

 

O Conteúdo

À seguir, irei postar o sumário do livro com os capítulos:

 

Introduction

Chapter 1 How to deal with UNDESIRABLES

Chapter 2 How to ESCAPE when attacked from the REAR

Chapter 3 How to ESCAPE when seized by na ITEM OF APPAREL

Chapter 4 Defence against na UNARMED OPPONENT

Chapter 5 Use of the STOUT STICK

Chapter 6 Use of the SHORT STICK or UMBRELLA

Chapter 7 How to THROW AND HOLD a man upon the GROUND

Chapter 8 Self-defence from a BICYCLE

 

 

Veredito

Como dito no vídeo do YouTube, eu considerei este conteúdo leve para a violência que nos afeta em nossos dias atuais, porém válido como fonte para aperfeiçoar nossos conhecimentos à respeito de artes marciais.

 

Logo abaixo eu estarei deixando o vídeo do YouTube, com o áudio em português do Brasil:

 




 

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

Teste com Facas #1: Minhas Impressões

 


 

Eu testei uma faca de churrasco da Brinox de seis polegadas (cerca de 15 cm). E agora dou as minhas impressões dos meus testes com a mesma.

Lembrando que os testes de corte e estocada estão no YouTube (no final deste artigo).

 

A Ponta

Após comprar a faca, a minha mãe a pegou para cortar alimentos e quando eu a peguei para fazer os testes, tive uma infeliz surpresa: a ponta da faca estava levemente inclinada para um dos lados, o que mostra que na hora da têmpera, ocorreu algum problema...

 

O Teste Em Si

Inicialmente os primeiros golpes foram feitos com uma pegada que eu chamo de “Pegada Filipina”, porém depois destes primeiros golpes, eu mudei para uma pegada que eu chamo de “Normal”. A partir de então todos os testes foram feitos com esta última pegada.



1-Pegada Filipina. 2-Pegada Normal.


Pessoalmente eu achei gostoso manobrar com essa faca, o cabo é anatômico e pela sua composição, faz com que a mão não escorregue.

 

Conclusão

Os golpes e movimentos fluíam normalmente e eu me senti seguro em utilizar a faca para a minha defesa pessoal. Claro: entre uma faca tática e ela, eu prefiro claro, uma faca tática, mas para quem não tem dinheiro e nem condições físicas de obter uma boa faca, ela resolve...

terça-feira, 26 de outubro de 2021

A Receita Para Se Tornar Um Mestre (Fraudulento)!

 



Olá pessoal! Depois de algum tempo sem uma postagem eu estou de volta! Hoje eu vou compartilhar com vocês um texto que foi inspirado em um vídeo de Marco Gimenez, do canal no YouTube Núcleo Dharma. No final deste artigo estará o vídeo para o caso de vocês desejarem assistir: ele está em português do Brasil.

 

Introdução

Marco Gimenez treinou judô e kung fu por anos de sua vida, chegando à faixa roxa dentro do judô e ao grau de mestre no kung fu. Dentro do kung fu ele teve experiências desagradáveis e baseado nelas, montou um vídeo cujo título é “Guia para se tornar um GRANDE Mestre!” no qual este texto foi inspirado. Abaixo os principais pontos do vídeo:

 

Como Ser Um “Grande Mestre”:

1.        Mudar de país.

Os mestres fraudulentos nunca deixam de ter sotaque e o alfabeto de seu país de origem é diferente do utilizado no país em que ele está.

Lembram-se do Superman? Em Krypton ele era apenas mais um. Na Terra as suas origens dão à ele poderes de um deus. O efeito pretendido é o mesmo para mestres em artes marciais: ser de fora oferece “poderes especiais”.

Quase sempre os mestres utilizam roupas exóticas que tenham as suas origens em seu país natal e validam a sua arte marcial com uma cultura antiga e que mal existem registros dela.

 

1.   Seleciona pessoas que tenham alguma carência.

Essa carência pode ser de:

·        Instrução (os melhores).

·        Atenção.

·        Status (status rápido).

Os mestres uniformizam esse pequeno grupo com roupas típicas de sua terra natal. Depois eles distribuem status no grupo: quem faz parte dele é especial, pois está aprendendo técnicas milenares (mesmo que elas não sirvam para nada ou nunca sejam postas à prova...).

 

2.   Conta histórias à respeito da sua arte marcial, mas evita que a mesma seja colocada à prova.

O mestre nunca permite que a sua arte marcial seja colocada à prova. Se vai testar alguma técnica, testa a mesma com alunos devotos: e assim obtém êxito! (contém ironia)

 

3.   O mestre fraudulento se associa a um grupo de pensamentos parecidos ao dele ou a uma associação internacional.

Ser associado dá ao mestre maior credibilidade (-“Nós somos federados!”). Se a associação tiver nome internacional, melhor ainda!

Se não conseguir se associar a uma federação internacional ou nacional mesmo, o mestre fraudulento cria uma, afinal apenas alguns pré-requisitos legais devem ser cumpridos e pronto! Importante: ele cria um logo, de preferência com um animal, mesmo que ele não tenha nada à ver com a sua cultura ou arte marcial de origem...

 

4.   Tendo nome e volume, o mestre fraudulento procura autoridades locais.

Ele procura normalmente um vereador ou deputado estadual que precisa de votos. O interessante é que o mestre fraudulento não precisa nem ter um número grande de pessoas em sua associação/escola, mas precisa aparentar ter!

 

5.   Aparece na mídia.

O mestre fraudulento ao aparecer na mídia, dá um grande passo para o seu sucesso. Ele não mostra nada muito direto, é exótico perante às câmeras e apresenta armas também exóticas e complicadas.

Para aparecer na mídia, basta ter bons contatos e na ausência deles, pagar para que isso aconteça. Não conseguiu aparecer na mídia? Não conseguiu aparecer em uma revista? O mestre fraudulento cria a sua própria revista!

 

6.   Traz amigos de sua terra natal para ministrar cursos.

O mestre fraudulento traz “grandes” nomes de sua terra natal para ministrar cursos em sua escola (mesmo que ninguém conheça o tal amigo e nem se tenha registros dele). Ele valida com histórias, técnicas e termos. Ele cobra caro e recebe uma porcentagem.

Ao fazer esse último ponto, o mestre fraudulento cria uma comunidade ao redor dele.

 

7.   Cria uma competição interna.

As competições sempre são entre pessoas que praticam a mesma coisa (ele nunca deixa que outras artes marciais compitam). O mestre fraudulento, se possível distribui prêmios do primeiro ao vigésimo lugar, nem todos podem ganhar: afinal como os alunos dele vão se sentir especiais, isto é, melhores do que os outros? Ele cobra caro pelas competições, tira muitas fotos e expõe tudo nas redes sociais.

 

8.   Elege um aluno como bode expiatório.

Em algum momento, algum aluno mais inteligente que a média vai perceber que o mestre fraudulento é de fato uma fraude! Então o mestre (fraudulento) elege esse aluno como bode expiatório: destrói a reputação do dito aluno, humilha-o perante todos, nega-lhe graduações e depois de um tempo, expulsa-o de sua escola/franquia. O intento de não expulsar logo o questionador é simples: mostrar para os outros alunos o que acontece com quem questiona o mestre.

Quando é questionado ele não responde a pergunta, ele (o mestre fraudulento) mostra que a pergunta não deve existir.

 

9.   Tem amizade com mestres de outras artes marciais...

“...mas a nossa arte marcial é a melhor, a mais tradicional, a mais isso, a mais aquilo...”. O mestre fraudulento sempre se mantém como uma espécie de ponte entre o conhecimento exótico e a ignorância dos alunos.

 

10.      O mestre fraudulento pode vir a montar a sua loja.

Nem todo mestre fraudulento faz isso. Mas alguns montam uma loja para vender roupas com o logo de sua escola, equipamentos de treino (de péssima qualidade), armas, produtos que não possuem nenhum teor com a arte marcial (como baldes e escovas...) e por aí vai. O mestre vende a sua marca, técnica é detalhe...

 

11.     O mestre fraudulento cria graduações difíceis de atingir... no início!

Faz os alunos sangrarem (sem aspas mesmo) para atingirem aquela graduação final (a famosa “faixa preta”). Somente quem se dedica de corpo, alma e bolso atinge a tal graduação, mas claro: com o passar do tempo os requisitos mudam e apenas aqueles que se dedicam de bolso conseguem atingir a dita graduação! Afinal com mais graduados, é possível ampliar a sua base de instrutores e assim obter vantagens em participações da franquia.

 

12.    Quando tem dissidentes, o mestre fraudulento os chama de “traidores!”.

O mestre acusa os que saíram de fazer com os alunos aquilo que ele mesmo faz! Mantém os filiados no cabresto, sempre!

 

13.    O mestre fraudulento sempre faz seminários.

Sempre são feitas mudanças de técnicas e a inclusão de outras. E essas técnicas nunca servem para nada, pois assim não podem ser colocadas à prova. Ele cobra caro pelos seminários e obriga os alunos a participarem, “-Afinal, você é do grupo ou não?!”. Sem seminários uma franquia de artes marciais não existe.

 

14.    Quando um aluno de um mestre fraudulento se dá mal em uma luta...

...ele põe a culpa no aluno afinal: -“O método é infalível!”. Se o aluno vence, o mérito é do professor, o mestre fraudulento sempre trabalha com a seguinte fórmula: o sucesso do aluno é dele e o fracasso é culpa do aluno.

Com o passar do tempo, o mestre fraudulento terá uns seis “pitbulls” que sabem o que está fazendo e uma imensa massa que não consegue fazer nada, mas isso não importa: se alguém desafiar a sua escola, o mestre fraudulento envia o desafiante para o pitbull e nunca para aquele aluno que está há anos treinando e que não consegue se sair muito bem (por culpa dele mesmo, claro...).

 

15.    O mestre fraudulento cria festas temáticas de sua cultura natal.

E essas festas temáticas são normalmente abertas ao grande público.  O evento sempre enaltece o mestre, como se ele fosse o único representante da cultura de sua terra natal. Neste evento ele vende espaço para comércio, apresenta amigos dele como grandes mestres e às vezes enaltece um ou outro aluno, criando uma nova forma de status entre os seus alunos/discípulos.

Usando essas festas temáticas, o mestre fraudulento reforça que apenas ele é a única autoridade sobre o assunto: somente ele é autorizado a falar, ensinar, formar alunos ou seja mais o que for.

 

16.    Se essa fórmula se desgastar, o mestre fraudulento se reinventa...

Ele (o mestre fraudulento) traz algo mais ancestral, algo mais raiz, algo mais. Não importa o que. Ele aproveita toda a estrutura já montada para abrir outro negócio extremamente lucrativo.

 

17.    Se alguém tenta abalar as estruturas de seu negócio, o mestre fraudulento...

... tenta compra-lo. A maioria está à venda, menos os que possuem como valores: a moral, a ética, a honra, a decência e a verdade, esses são caros demais para serem comprados...

 

Autoria: Marco Gimenez.

Organizador: Raphael Galdino da Iniciativa Casa dos Cavaleiros.

 

Como prometido, o vídeo que inspirou este artigo:

 


segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Liceu: As Origens Desse Termo

 


 

Olá para todos! Hoje eu pretendo trazer à todos as origens da palavra “liceu”, termo este que é utilizado para designar certas escolas.

 

Origem e Significado

O termo “liceu” deriva do grego “lykaiós” e significa literalmente “destruidor de lobos”. O filósofo macedônio, Aristóteles, após ter finalizado os seus serviços como tutor de Alexandre, o Grande, dirigiu-se para Atenas onde fundou a sua escola filosófica próxima ao templo dedicado ao deus Apolo Lício, sendo o nome “liceu”, derivado de “lício”.

 

A Estrutura

Os autores antigos, afirmavam que o Liceu (de Aristóteles) tinha uma vasta biblioteca, com obras escritas pela própria escola, além de obras de outras escolas filosóficas e livros vindos de diversos cantos do Império de Alexandre (que doava muitos livros, animais e vegetais para o Liceu). Além disso, havia uma área de zoológico, onde animais e vegetais de diversos cantos do mundo ficavam, além de uma área de passeio coberto, um jardim (onde Aristóteles comumente lecionava e andava ao mesmo tempo – sendo por isso apelidado de “peripatético”, que significa “aquele que anda enquanto fala”), uma sala de refeições em comum e (o que autores antigos omitiram) uma arena para lutas (provavelmente pancrácio ou alguma forma antiga de wrestling), coisa que apenas a arqueologia contemporânea descobriu.

Dizem que a estrutura do Liceu, inspirou Demétrio de Faleros, um exilado ateniense vivendo na corte do faraó Ptolemeu I, a criar a famosa Biblioteca de Alexandria (ou Museión).

 

Os Cursos

No Liceu os discípulos se dividiam em dois grupos, os exotéricos (não-iniciados) que era um público mais abrangente e os esotéricos (os iniciados) que eram em número reduzido. Os cursos ministrados na escola também eram divididos dessa forma e abrangiam os públicos já mencionados. É importante salientar que a divisão em iniciados e não-iniciados não era advindo de um elitismo cultural, mas sim do grau de periculosidade que os cursos possuíam. Por exemplo, o curso de retórica era exotérico (aberto para o público em geral) o de filosofia primeira (conhecida hoje em dia como metafísica) era para esotéricos (para alunos avançados).

 

Atualmente

O nome Liceu é utilizado por escolas em diversos locais do mundo e não guardam a mesma estrutura física ou de cursos que a antiga escola de Aristóteles possuía.

 

É importante frisar, que em outros artigos, eu já falei da Academia, a escola de Platão (que por sinal foi o professor de Aristóteles). Clique no link abaixo para saber mais à respeito, eu sou Raphael e vou ficando por aqui!

 

Um Bom Local de Treino! (onde eu falo sobre a Academia de Platão)

 

Abaixo eu deixo um vídeo com o áudio em língua portuguesa falando sobre o Liceu:

 



terça-feira, 18 de maio de 2021

Uma Breve História dos Livros

 


 

Olá! Seja bem-vindo a Casa dos Cavaleiros, um blog à respeito de HEMA (Historical European Martial Arts) mas que hoje falará sobre a história dos livros, afinal o HEMA só é possível de ser lido e praticado por conta dos livros que sobreviveram com o passar dos séculos.

 

Origens

Os livros mais antigos de todos eram os manuscritos, termo que literalmente significa “escrito à mão”, deixando claro como eram feitas as cópias do que ali se encontravam. Originalmente os manuscritos eram feitos de papiro (uma planta encontrada no Egito), porém no antigo Reino de Pérgamo foi desenvolvido um novo tipo de material que era feito a partir de couro de bode/cabra. A novidade ficou conhecida como pergaminho (nome derivado de Pérgamo) e durou bastante tempo, sendo substituído pelo papel apenas em meados do século XV d.C. Uma curiosidade: o mais antigo texto de artes marciais ocidentais (o “MS P.Oxy.III.466”) é feito de papiro.


Manuscrito MS P.Oxy.III.466


Todos os manuais de HEMA da Idade Média eram manuscritos: foram todos feitos à mão.


 

A Imprensa e o Papel

O problema com o papiro era que com o tempo ele ia se desfazendo, afinal ele era feito de fibras que eram entrelaçadas. E o problema com o pergaminho era o material do qual ele era feito: para se fazer uma Bíblia Sagrada eram necessários pelo menos o couro de 6 mil cabras! Além disso a forma manuscrita de se fazer livros era demorada de se fazer: uma Bíblia Sagrada feita por um bom monge copista, demorava em média um ano e meio para ser feita, sendo o normal o período de dez anos!


Monges copistas.


Com a invenção da imprensa por Guttenberg, a cópia dos livros ficou mais fácil, porém o problema do material a ser usado continuou. Foi assim que os donos de editoras se voltaram para a celulose, isto é, o papel. Com a adoção da prensa e do papel ficou mais fácil escrever, copiar e vender livros. Mais uma curiosidade: os primeiros livros impressos eram chamados de incunábula (que significa “de berço”).

 

Epílogo

Bom, era somente isso o que eu tinha para compartilhar com os senhores! Fiquem com Deus e até a próxima!