sexta-feira, 27 de março de 2020

Títulos Nobiliárquicos – Parte 1




Olá!



Neste texto iremos falar as origens e significados dos três títulos de nobreza mais simples: o Cavaleiro, o Barão e o Visconde.





Cavaleiro

O título de cavaleiro tem as suas origens na Roma Antiga, onde a classe média era chamada de “equestrii” (“cavaleiros”): eram homens que tinham dinheiro suficiente para comprar um cavalo e que quando convocados para a guerra (no sistema da Legião RomanaPré-Mariano) normalmente serviam e combatiam montados.

A partir do século III d.C, o legionarii começou a perder importância para o equestrii, que já não era mais um cidadão de classe média, mas sim um soldado recrutado nas massas e que servia a Legião Romana regularmente.

O título deu uma arrefecida com a Queda do Império Romano do Ocidente (476) para voltar com força total com os francos a partir das reformas que Carlos Martel promoveu após a famosa Batalha de Poitiers/Tours (732): durante a famosa batalha, os francos só conseguiram superar a cavalaria árabe por estarem em um terreno alto além de terem armas longas (espadas e lanças) e pelo fato de os muçulmanos terem se desorganizado no ataque aos francos.

Os cavaleiros francos foram feitos inicialmente para combater os cavaleiros islâmicos que ainda se encontravam na Septmânia e nos Pirinéus. Embora eles tenham sido utilizados pelos francos contra os lombardos pagãos nos tempos de Pepino, o Breve (filho de Carlos Martel e pai de Carlos Magno). A partir de então, os povos europeus cristãos passaram a terem cavaleiros em suas fileiras: guerreiros devotados que proferiam votos de fidelidade e que desde a infância ingressavam nesse caminho. Haviam sim cavaleiros corruptos, mas isso não era a regra.

Por causa dos constantes conflitos na Península Ibérica (A Reconquista) ser um cavaleiro inicialmente era um título dado para qualquer camponês que tivesse um cavalo disponível para a batalha (semelhante ao equestrii republicano romano), porém com o tempo o título ganhou grande importância sendo que por causa das ordens religiosas de cruzados que atuavam dentro da Península, ser sagrado cavaleiro tornou-se de suma importância não apenas como título, mas o real significado de que aquele guerreiro era um cristão e que combatia “o bom combate”, eram títulos carregados de grande importância e dever.

Nos reinos da França e Inglaterra, o Cavaleiro era o mais baixo título de nobreza e visto pelos grandes nobres como um pouco melhores do que a plebe, sendo que no último país mencionado ser um cavaleiro dava permissão legal para que uma pessoa portasse uma espada dentro de cidades (um camponês não poderia fazê-lo).

Hoje em dia ser sagrado um Cavaleiro é um honraria dada a membros civis em países onde ainda se conserva a Monarquia (como o Reino Unido) ou onde essa tradição ainda é muito forte (como na República de Portugal).





Barão

É derivado de uma palavra em germânico antigo e que significa “homem livre”. Os homens livres (barões) originalmente configuravam o status de todo homem germânico que pertenciam a uma tribo e que não eram escravos. Os barões eram todos aqueles que eram convocados pelo rei da tribo para pegarem em armas e cujas vozes se faziam ouvir nas assembleias de guerreiros.

Como os germânicos conquistaram todo o Império Romano do Ocidente, o título se popularizou a tal ponto, que “barão” se tornou sinônimo de “nobreza”, aquilo que em Portugal se chamaria “fidalgo” e em espanhol “hidalgo”.

Em títulos nobiliárquicos, ser um Barão é estar abaixo de todos os títulos, exceto o de Cavaleiro e o de Visconde...





Visconde

O termo deriva do latim “vice-comites” ou em uma tradução literal “o vice-conde”, sendo o termo “vice” significando “aquele que fica no lugar de”. Ou seja: originalmente o visconde respondia pelas funções do conde, quando este se ausentava de suas terras (Condado) para atender as convocatórias dos Soberanos. Com o tempo deixou de ser uma função (bastante honrada) para ser um título de nobreza equiparável ao de um Barão e acima do título de Cavaleiro.





Bom, estes foram os títulos deste artigo. No próximo artigo desta série eu falarei sobre os Condes, Duques e Marqueses. Não perca!


LEIA TAMBÉM Títulos Nobiliárquicos - Parte 2

LEIA TAMBÉM Títulos Nobiliárquicos - Parte 3

segunda-feira, 23 de março de 2020

As Virtudes do Espadachim (de Acordo com Fiore)




Olá! Hoje eu desejo falar sobre a página (folio) 32r do manuscrito Ludwig XV_13 do Flos Duellatorum. Nessa referida página (folio) existem os Sete Golpes da Espada e as Quatro Virtudes do Espadachim. Falarei sobre as virtudes neste artigo.








As Virtudes

São Quatro as Virtudes de um bom espadachim de acordo com o mestre Fiore dei Liberi:



·        Prudência

·        Velocidade (ou Celeridade)

·        Força

·        Coragem



Cada Virtude é representada por um animal e por uma descrição poética, porém objetiva.





Nenhuma criatura enxerga melhor do que eu o Lince. Eu sempre defino as coisas de agora com direção e (boa) medida.


Eu o Tigre sou tão rápido em correr e percorrer que mesmo um raio do céu não pode me ultrapassar.


Eu sou o Elefante e eu carrego um castelo como minha carga. E eu não me ajoelho ou perco o meu pé.


Ninguém carrega um coração mais ardente que o meu, o Leão. Mas para todos eu faço um convite para a batalha.





Bom, eu espero que tenham aprendido! Fiquem com Deus e até a próxima!

quarta-feira, 11 de março de 2020

Boxe Antigo (Pugilato): Algumas Considerações


Olá! Neste texto iremos falar sobre o pugilato, o boxe antigo.


Introdução
Neste outro artigo eu falei sobre o Boxe. Eu falei muito por cima sobre o pugilato, o boxe grego antigo que os romanos aprenderam e espalharam por toda a região do Mediterrâneo. Hoje darei uma maior ênfase nele.

Nos Jogos Olímpicos Antigos o Boxe (Pugilato) fazia parte das competições. Ele é retratado pela primeira vez em um afresco da civilização minoica de 1.500 a.C.


Afresco de 1.500 a.C mostrando uma luta de pugilato.

Na literatura, vemos pela primeira vez uma menção ao pugilato na Ilíada, quando Aquiles promove jogos fúnebres em honra á Patrôclo. Vejamos:

[Aquiles] Em seguida colocou os prêmios do doloroso pugilato (...) Primeiro colocou o cinturão e depois deu-lhe tiras de couro bem cortadas, feitas a partir de um boi campestre. Após terem se cingido, ambos avançaram para o meio da assembleia e após erguerem as mãos, embateram ambos e enrolaram-se um com o outro com murros pesados. Terrível era o estalido dos maxilares e o suor escorria-lhes por toda parte do corpo (...) e bem direcionado o esmurrou no queixo. Não por mais tempo se manteve de pé (...) – A Ilíada, Canto XXIII, versos 653, 683-690

O pugilato utilizava as mãos em seus combates, porém não se usava os nós das mãos como em artes marciais orientais, mas sim a região do “martelo” da mão, além dos cotovelos!


Popular
O pugilato sempre foi muito popular entre a população romana, que corria para as arenas para assistirem as lutas entre os pugilistas, que além de usarem tiras de couro envolvendo as mãos (“sphairai”), costumavam utilizar-se do “cestus”, um ancestral das soqueiras que temos hoje!


Exemplo de cestus.



Outros exemplos de cestus.


O pugilato caiu em desuso a partir do reinado de Honório (reinou de 395 à 423) que proibiu as lutas nas arenas, embora a luta com as mãos tenha continuado na Europa e na região Mediterrânica, embora de maneira mais modesta do que outrora.


Conclusão
Por fim no século XIX o pugilato retornou de maneira forte como o Boxe Inglês, embora as regras tenham desprendido o Boxe do Pugilato, mas isso é outro tema...

Fiquem com Deus e até a próxima!

segunda-feira, 9 de março de 2020

Esgrima Histórica: Uma Introdução




Olá! Hoje eu falarei sobre a esgrima histórica, as suas origens e para onde ela caminha.


Extrato do manual de esgrima histórica "Flos Duellatorum".





Introdução

O termo “esgrima” deriva do dialeto provençal (um dialeto da região da Provença no sul da França) e significa “defesa”. Em inglês existe o termo “fencing”, um diminutivo de “defencing” (“defesa”): sendo assim, esgrima é a capacidade de alguém se defender. Porém por milênios a melhor arma para defesa pessoal no Ocidente foi a espada, sendo assim se tornou natural que ela se tornasse o instrumento de defesa pessoal usado no aprendizado da esgrima (“defesa”) ao invés da lança, do machado ou mesmo do punhal.





Historicidade

A esgrima histórica sempre existiu ao longo da história (desculpem a redundância) sendo que a partir do século XVII ela foi reduzida (na Europa Ocidental) á lutas envolvendo a rapiera e similares. Somente na virada dos séculos XIX e XX é que iniciou-se na Inglaterra um movimento de resgate da esgrima histórica capitaneado por Alfred Hutton e assim para diferenciar a esgrima olímpica da esgrima histórica foi criada há alguns anos essa diferenciação terminológica.



A esgrima olímpica é um esporte: ela perdeu a sua capacidade de esgrima (“defesa”) porém a esgrima histórica manteve e sempre manterá as suas características próprias de esgrima.





Como Estudar?

No Brasil, nos grandes centros urbanos (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre...) existem grupos de estudos que visam estudar a esgrima histórica, porém pode ser que não exista próximo de sua casa um desses grupos, o que fazer? Eu sugiro que você estude sozinho: hoje em dia existem manuais gratuitos de HEMA (Historical European Martial Arts) espalhados pela internet com um material historicamente autêntico e fiel. Um bom ponto de partida é a Wiktenauer (www.wiktenauer.com): lá você poderá encontrar vários desses manuais escritos em suas respectivas línguas medievais e até traduções para o inglês e o francês!



Caso deseje estudar material em língua portuguesa, este blog se propõe a estudar não apenas esgrima histórica, mas outros tipos de artes marciais históricas europeias (AMHE). Temos também um canal no YouTube, basta digitar “Casa dos Cavaleiros” por lá ou simplesmente clicar aqui e ir direto para lá.





Bom, eu espero que este texto tenha sido esclarecedor! Fiquem com Deus e até mais!

quarta-feira, 4 de março de 2020

Lange Messer: Uma Introdução




Olá! Neste texto eu falarei sobre o Lange Messer, uma arma pouco conhecida atualmente, porém muito popular na Idade Média Européia!





A Arma

Lange Messer é um termo em alemão que significa "Faca Longa" (Lange=longa; Messer=faca). O Lange Messer é a versão alemã medieval do "Fachion" francês. A ponta de uma Lange Messer é do tipo "clip point", o que a faz ter uma aparência semelhante á uma faca bowie, só que longa. Os Lange Messers normalmente possuem uma guarda que além de proteger a mão do usuário ainda por cima serve para evitar que a mesma escape para o fio: uma arma podia ter entre 900 gramas a até 1,5 kg de massa e entre 75 cm á 1,2 metro de comprimento.





A Lange Messer foi uma arma muito popular entre pessoas comuns e mercenários que viviam nos territórios do então Sacro Império Romano-Germânico e o seu treinamento é relatado em manuais de artes marciais da Escola Alemã.Vários fechtbuch (manuais de defesa pessoal) da época ensinam como utilizar um lange messer.





Conclusão

Em nossos dias atuais, no Brasil, aprender como usar uma lange messer é fundamental para a nossa defesa pessoal e caso você seja interessado em HEMA, esta arma pode ser o seu ponto de partida para o seu aprendizado, pois ela se assemelha bastante á um facão em tamanho e em uso.


Caso você não tenha dinheiro para comprar uma espada, uma lange messer pode ser improvisada a partir de um facão!

segunda-feira, 2 de março de 2020

Como Usar um Gládio (Gladius)?




Olá! Neste texto eu pretendo responder uma questão: como se utiliza um gládio (ou gladius, caso você queira manter a pronúncia original) em combate? Vamos às respostas?

O meu gládio!




Contexto

Em outro texto (este aqui) eu mencionei que havia dois tipos de espadas: as que se usavam com escudo e as que não se utilizavam com escudo. O gládio é uma espada que se usa com escudo. Tendo isso em mente, fica mais fácil de entender que ele é usado para ações estritamente ofensivas enquanto que o escudo deverá ser usado para movimentos defensivos. Além disso, os romanos nos tempos das Legiões Pré-Mariano, Pós-Mariano e Pós-Augusto (que você poderá ler clicando aqui) lutavam em grupos chamados de manipulus ou centúria (dependendo da época): eles NÃO travavam combates individuais nos campos de batalha.



Essa é a base tática de uma luta onde e qual o contexto você deverá usar um gládio. Mas agora vamos aos dois modos de se utilizar a espada.





Respaldo Histórico

[Ele] Retalhou o primeiro que encontrou e avançou muito (...) até o momento em que foi detido por um golpe de espada na boca tão violento que a ponta da arma saiu por cima de sua nuca. – Alexandre e César, Vidas Paralelas – César, capítulo XLIV, verso 12.



Essa citação, retirada da obra de Plutarco de Queronéia, nos mostra os dois usos do gládio em combate: o primeiro é através dos golpes de retalhos (cortes, se você preferir) e o segundo é através de golpes de estocada.



Essas são as duas maneiras de se utilizar o gládio. Eu poderia parar por aqui, mas eu pretendo dar-lhes alguns detalhes extras que farão toda a diferença.





Onde Atingir?

O gládio essencialmente foi desenhado para um melhor desempenho em estocadas. Ele é bom em cortes, porém é na perfuração que ele se destaca! Sendo assim, existem dois pontos fundamentais onde a espada pode estocar um adversário: o primeiro é no abdômen e o segundo ponto é na garganta. O gládio pode ser utilizado para estocar outros pontos, porém é nesses dois que ele causa mais estragos.



Eu tenho um gládio e treino há cerca de um ano com ele e cheguei à conclusão de que ele é uma arma boa para golpes de estocada, além de eu ter treinado golpes dirigidos á garganta e ao abdômen.





Conclusão

Muita gente fala do gládio, porém ninguém faz um texto explicando como usá-lo! Eu espero que você tenha aprendido como usar essa espada que fez história! Fiquem com Deus e até a próxima!

LEIA TAMBÉM: Gládio (Gladius): Uma Introdução.

LEIA TAMBÉM: Tipos de Espadas Existentes.

Boxe: Uma Introdução




Olá: hoje falarei sobre o Boxe, na verdade, sobre os boxes existentes.





Introdução
O termo “boxe” deriva do inglês “to box” (“bater”) e serve para designar qualquer tipo de luta que envolva a troca de socos, chutes e extremidades entre os seus praticantes.



Existem vários tipos de boxe: o inglês, o francês (Savate), o filipino (Panantukan), o boxe tailandês (Muai Thay), o boxe chinês (Sanda), o Kickboxing... todos com as suas regras de trocas de golpes e com trocas de golpes!





Historicamente
No Ocidente, tivemos o pugilato, cujas raízes remontam á pelo menos 3 mil e quinhentos anos, quando os minoanos (cretenses) trocavam socos e cotoveladas em lutas. Em sítios arqueológicos pertencentes á Civilização Minóica existem pinturas de boxeadores trocando golpes: é a mais antiga forma de boxe (e uma das mais antigas de luta com as mãos) existente e já devidamente documentada. Isso demonstra duas coisas: NÃO foi na Índia que surgiram as artes marciais e lutar sempre foi algo próprio dos seres humanos.


Pugilato sendo praticado há 3.500 anos atrás!



Esse “boxe grego antigo” possui o nome de “pugilato”, pois quando Roma conquistou a Hélade (Grécia) e os romanos adotaram a cultura helênica, eles passaram a chamar assim aquela forma de boxe, que rapidamente caiu no gosto popular da Civilização Latina, sendo exibidas lutas de pugilato em teatros e arenas por todas as possessões romanas.

Eu fiz um vídeo falando sobre o Boxe, ele está com o áudio em português do Brasil, assista-o abaixo:







Finalizando...
Por enquanto é só isso. Como o assunto é longo e extenso, escreverei mais sobre ele futuramente! Fiquem com Deus e até a próxima!


LEIA TAMBÉM: Boxe (Pugilato): Algumas Considerações