segunda-feira, 22 de junho de 2020

Partazana (Partisan): Uma Introdução




Olá! Hoje eu falarei sobre a partazana, ou partisan, uma lança muito pouco conhecida do grande público, mas que foi muito popular entre exércitos europeus a partir do século XVI d.C e que seguiu em uso até meados do século XVIII d.C, quando a introdução de novas armas de fogo fizeram-na ser reduzida ao uso cerimonial.


Termo
O termo partazana deriva do francês “partisan” que literalmente significa “partido”. Sendo assim, partazana seria uma maneira de se referir a lanças com ganchos nas laterais (lanças partidas) que foram muito populares entre infantarias, sobretudo as do Leste Europeu, que as utilizavam para barrar ataques de cavalaria.

Um tipo de partazana. 



Outro tipo de partazana.


Uso
Como já dito, eram armas de infantaria, que as utilizavam principalmente contra cavalaria, mas também eram boas para enfrentarem espadachins, pois os ganchos ajudavam a desviar ataques de espadas. Uma partazana tinha entre 1,80 metro e 2,70 metros de comprimento e era dividida em duas partes: haste, que era feita de madeira e a ponta, sempre de metal.
Apesar de ter sido muito utilizada no Leste Europeu, a arma foi bastante difundida pelo continente europeu de maneira que como já dito em outro artigo, os portugueses do século XV a utilizavam.


Bom, era isso. Caso desejem saber mais sobre armas e artes marciais históricas europeias (HEMA) cliquem nas sugestões de artigos que estarão abaixo. Fiquem com Deus e até mais!





sábado, 13 de junho de 2020

Refutando Uma Fala Duvidosa




Olá! Fiquei estarrecido ao ler uma entrevista dada por Salésio Nuhs à revista eletrônica DefesaNet. Este aqui é o blog da Casa dos Cavaleiros, uma iniciativa que abrange Cultura Marcial e HEMA (Historical European Martial Arts), não é do meu feitio escrever aqui sobre notícias atuais, porém me vi obrigado a fazê-lo por desconhecer respostas as falas absurdas do atual CEO (“Chief Executive Office” – “Diretor-Executivo”) da Taurus e da CBC (ambas as empresas possuem os mesmos donos) que criticou na dita entrevista à revista eletrônica um discurso do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro.





Entrevista

Na entrevista à DefesaNet, Nuhs falou que a redução de impostos que o PR (Presidente da República) dará para importações de armas e munições iria prejudicar o BID (Base da Indústria de Defesa) em nosso país e citou números de empregos diretos e indiretos que o monopólio que ele comanda gera na economia do país...





Monopólio

A Taurus e a CBC (Companhia Brasileira de Cartuchos) pertencem aos mesmos acionistas e na prática constituem uma única empresa (por assim dizer). A Taurus é conhecida no meio dos atiradores e de agentes de segurança pública pela péssima qualidade de seus produtos: armas que disparam sozinhas, outras que não disparam quando municiadas... as histórias são muitas e caso se interesse por elas, eu sugiro que procurem a ONG “Vítimas da TAURUS” onde histórias tristes e revoltosas podem ser lidas e assistidas por pessoas que usaram produtos da dita empresa.

A TAURUS há anos possui o monopólio da fabricação de armas e de munições no Brasil e costumava financiar políticos desarmamentistas, antes de empresas serem proibidas de fazê-lo pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Salésio Nuhs ao criticar a fala de Bolsonaro não está realmente pensando nos empregos gerados pelo monopólio, ele está pensando apenas no lucro do monopólio que ele comanda! Na própria entrevista ele confirma que a TAURUS está com um pé forte nos EUA e negociando com a Índia! Mas pelo monopólio tudo vale, não é mesmo?



A TAURUS só é a potência que é no mercado por causa do monopólio que exerce no Brasil, sem esse monopólio ela simplesmente quebra. Não vou me aprofundar em questões políticas, apenas digo que a fala do dito CEO visa apenas proteger os seus interesses, ele não está preocupado com a qualidade das armas e munições fabricadas pela sua empresa, apenas no lucro que ela pode vir a perder caso haja uma justa concorrência.



Caso se interessem pela entrevista, poderão lê-la aqui.



Fiquem com Deus e até a próxima!

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Análise do Livro: A Arte da Guerra, de Maquiavel




Nicolau Maquiavel é famoso pelo seu livro “O Príncipe” e muitos por conta disso desconhecem essa obra interessante: “A Arte da Guerra”!

Muitos conhecem a arte da guerra, escrito por Sun Tzu, porém não conhecem o exemplar homônimo escrito por Maquiavel.





O Livro em Si

O livro foi escrito entre 1519 e 1520 e está em diálogo socrático, isto é, um personagem fala e o outro responde, sendo que na conversa existe sinceridade e a busca pela verdade dos temas abordados. Os personagens são: Fabrizio Colonna, um condottieri (capitão de exército) muito famoso na época; Cosimo Rucellai, um patrício florentino que abrigou Fabrizio e inicia os diálogos; Zanobi Buondelmonti; Batista dela Palla; Luigi Alamanni; todos eram jovens na época em que o texto está ambientado e eram amigos de Nicolau Maquiavel, que dedica o livro a Lorenzo Strozzi, filho de Filippo Strozzi, amigo e protetor de Maquiavel, Lorenzo foi o responsável por fazer a ligação dele com a Casa dos Médicis.

O livro em si está dividido em sete partes, que são nomeados de “Livro”. Cada “livro” aborda um aspecto.



·        Livro I: foco na ordenança, isto é, a necessidade de se criar um exército permanente/regular e não depender de mercenários.

·        Livro II: foco na Legião Romana e comparação com as infantarias suíças e aragonesa-castelhana. Fala-se também como organizar uma companhia durante as marchas para o combate.

·        Livro III: foco nas formações táticas do exército e como motivar os soldados.

·        Livro IV: foco na motivação dos soldados e como motivá-los a combater pela pátria ou pelo líder.

·        Livro V: discorre-se sobre a marcha do exército.

·        Livro VI: discorre-se sobre o acampamento.

·        Livro VII: dá-se atenção as cidadelas e fortalezas.



Resumidamente este é o conteúdo do livro.





Conclusão

O livro é uma boa pedida para quem deseja conhecer mais dos detalhes táticos e operacionais dos exércitos medievais, pois o livro foi escrito em uma época em que os canhões e armas de fogo eram muito poucos em relação a quantidade que nos séculos posteriores se verificariam (muitas armas utilizadas nos exércitos do Ocidente na época eram vindos direto da Idade Média). Além disso, ser conhecedor desse livro fará você um melhor entendido sobre as forças armadas como um todo!

Eu recomendo a leitura desse livro.




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quarta-feira, 10 de junho de 2020

Eu Posso Ter Uma Espada Dentro da Lei?







Olá! Como colocado no título deste texto eu pretendo responder da maneira mais objetiva e direta possível se é possível ter uma espada dentro da lei (Lei do Brasil, de onde eu escrevo).





Base Legal

A base da lei no Brasil é a Constituição Federal que diz:

“Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;– Artigo 5º Parágrafo II.



Em outras palavras: para algo ser proibido, deve ser antes escrito na lei. Ponto.



No Brasil o Governo Federal é o único ao qual compete proibir ou restringir armamentos dentro do território nacional (Artigo 84) e sendo assim ele o faz através de uma lista conhecida como: “R-105”. Não vou me alongar mais nisso, digo apenas que quem criou o R-105 foi Getúlio Vargas, logo após ele ter ganho a guerra civil travada contra os paulistas (Revolução Constitucional de 32) e o objetivo é impedir que o Povo se arme e revolte-se contra a União.





Respondendo a Questão

Seja como for, o atual R-105 responde através do Decreto 10.030/2019 e nele NÃO HÁ restrições com relação a armas brancas ou espadas. Em resumo, respondendo a pergunta do título: você PODE ter a sua espada sim, dentro da lei, pois se não está descrita no R-105, automaticamente está permitido!



Compre a sua espada e seja feliz com ela!

Caso se interesse, eu fiz um vídeo sobre o tema mencionado aqui no blog, o áudio está em português do Brasil:






Fontes:



Constituição Federal: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm





Atual R-105 (Decreto 10.030/2019): http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Decreto/D10030.htm

sexta-feira, 5 de junho de 2020

O Armamento Lusitano (de Portugueses) do Século XV




Olá! Neste texto eu irei mostrar e comentar sobre o armamento utilizado pelos portugueses no final do século XV, durante a época das Grandes Navegações.









Exemplos

Deste Deus-Homem, alto e infinito,
Os livros, que tu pedes não trazia,
Que bem posso escusar trazer escrito
Em papel o que na alma andar devia.
Se as armas queres ver, como tens dito,
Cumprido esse desejo te seria;
Como amigo as verás; porque eu me obrigo,
Que nunca as queiras ver como inimigo."


Isto dizendo, manda os diligentes
Ministros amostrar as armaduras:
Vêm arneses, e peitos reluzentes,
Malhas finas, e lâminas seguras,
Escudos de pinturas diferentes,
Pelouros, espingardas de aço puras,
Arcos, e sagitíferas aljavas,
Partazanas agudas, chuças bravas:”
– Os Lusíadas, Canto I, Estrofes 66 e 67



A estrofe 67 descreve ligeiramente as armas usadas pelos valentes portugueses que debaixo do comando de Dom Vasco da Gama atravessariam o Cabo das Tormentas e chegariam nas Índias! É importante frisar que este texto citado é de uma época em que D.Bartolomeu Dias havia chegado ao Cabo das Tormentas (da Boa Esperança) e agora era missão de D.Vasco da Gama ultrapassá-lo. Neste momento em que o texto é escrito, os portugueses (lusitanos) ainda estavam na Costa Africana do Atlântico, eles ainda não haviam contornado o Cabo das Tormentas. Mas vamos às armas?





As Armas em Si



Arnês
A primeira arma descrita é o arnês. Mas o que é um arnês? Nada mais é do que uma armadura completa, que cobre o soldado da cabeça aos pés. Em inglês o arnês é chamado de “full-plate armour”. Abaixo um exemplo de arnês:









Peitos

Os Peitos também possuem o nome de “couraça” ou “couraça peitoral” (termos derivados do francês “courace”, tropas napoleônicas que montavam à cavalo e que usavam peitoral chamados de “couracier”). O peitoral é parte do arnês, mas poderia ser utilizado em separado sem as outras partes do mesmo.




Malhas Finas

As malhas, também conhecidas como cota-de-malha eram velhos conhecidos dos exércitos ocidentais. Os romanos em suas guerras contra os celtas viram esses povos usando malha em combate e copiaram a mesma, adotando-a em suas Legiões! As malhas eram boas para defender ataques de corte com a espada e com a lança, embora não fossem resistentes contra cortes de machados. Abaixo um exemplo de cota de malha:







Pelouros

Pelouros nada mais são do que balas (munição) usadas em canhões e em espingardas mais arcaicas. Os pelouros eram feitos de pedra que eram esculpidas em formato esférico. Abaixo exemplos de pelouros:







Aljavas

As aljavas nada mais eram do que estojos onde se depositava (guardava) as flechas (que no texto de Os Lusíadas é chamada de “sagitíferas”, termo derivado do latim “sagitta” que significa “flecha”). Abaixo exemplos de aljavas com sagitas (flechas) depositadas:







Partazanas

A partazana (ou patisan) é uma lança com a ponta fina ou grossa (depende do modelo) que possui “abas” semelhantes a ganchos, que podem proteger o usuário de ataques cortantes. Abaixo um exemplo de partazana:







Chuça(o)

Nada mais é do que uma lança curta com ponta de ferro ou aço aguda. Podem ser utilizadas para ataques de estocada de curta distância ou para arremesso, embora normalmente era utilizada na primeira “modalidade”. Abaixo um exemplo de chuço(a):







Conclusão

As armas utilizadas nesse período das Grandes Navegações tinham as suas origens na Europa Medieval e várias delas são estudadas por grupos de HEMA (Historical European Martial Arts), por isso julguei importante exibi-las aqui no blog! Ao contrário do que aprendemos na escola, o uso de armas de fogo era secundário nessa época se formos levar em consideração a disponibilidade de armas brancas que se utilizavam nesse período (fins do século XV).

Eu também publiquei um vídeo falando sobre o armamento utilizado pelos portugueses no século XV, o áudio está em português do Brasil:






Fiquem com as sugestões de outros artigos e até a próxima!




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quinta-feira, 4 de junho de 2020

Biografia&Manuais: Dom Diogo Gomes de Figueiredo



Olá! Hoje falarei sobre esse ilustre desconhecido da história de Portugal: Dom Diogo Gomes de Figueiredo, um dos maiores esgrimistas e comandantes militares do então Reino de Portugal.


Origens
Dom Diogo nasceu por volta de 1600 em Portugal (em plena era da União Ibérica), filho de Dom João Gomes Quaresma, foi um militar, mestre esgrimista e autor de tratados de esgrima.


Vida
Começou a sua carreira militar ainda em 1626, quando durante a sua ida para o combate, o seu navio naufragou na Gasconha (Reino da França).
O seu primeiro tratado de esgrima é o “Oplosophia e a Verdadeira Destreza das Armas” (escrito e publicado em 1628 – manuscrito MS Vermelho.nº.91), ), claramente um manual de esgrima baseado na “Destreza”, a esgrima praticada na Espanha com a rapiera.
Quando em 1/12/1640 o então duque de Bragança, Dom João, deu um golpe-de-estado separando o Reino de Portugal da Casa Habsburgo e tornando-se ele próprio rei como D.João IV (fundando a sua própria dinastia, a Casa Real de Bragança) D.Diogo ficou ao lado dos independentistas portugueses e serviu como mestre-de-campo (o equivalente a época como general) das hostes portuguesas contra os exércitos da Casa Habsburgo.
No ano de 1653, escreveu outro tratado de esgrima, o “Memorial da Prática da Montante” (manuscrito MS 49.III.20.nº.21) ) que é o manual mais usado em nossos dias para quem deseja aprender a lutar com uma espada Montante (também conhecida como “Great Sword” em inglês, “Spadone” em italiano e “Zweihander” em alemão), também conhecida como as 16 Regras e Contra-Regras de Figueiredo, onde ele exibe todo o seu conhecimento prático no manuseio da espada montante, a mais cultuada espada do Reino de Portugal durante os gloriosos dias da Casa de Avis. D.Diogo escreveu esse segundo tratado visando preservar o ensino desta espada e toda a cultura que havia sido desenvolvida em torno dela (uma cultura lusitana em contraponto à cultura espanhola).
Como militar D.Diogo foi bem-sucedido, participando como mestre-de-campo em três das cinco maiores vitórias de Portugal contra os Habsburgo, com destaque para as batalhas de Montijo, Linhas de Elvas e a defesa da Aldeia de Almeida.
Foi tutor do príncipe-herdeiro D.Teodósio (filho do rei D.João IV e de D.Luísa de Gusmão) que morreria antes de ser aclamado rei de Portugal (vítima da “Maldição dos Braganças”?): o Memorial da Prática do Montante foi escrito e dedicado ao príncipe.


Fim
Morreu no dia 30/09/1685, com mais de oitenta anos de idade (bastante senil para a época!). Foi sepultado no Mosteiro de Trinidade farto de dias e sabendo que a sua pátria estava em paz com a Espanha, além de vê-la livre dos Habsburgos ainda em vida.


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segunda-feira, 1 de junho de 2020

A Regra dos 21 Pés de Tueller




Olá! Neste texto eu explanarei sobre a Regra dos 21 Pés de Tueller.





Quem Foi?

Dennis Tueller foi um sargento de polícia dos EUA que fez alguns experimentos e chegou a conclusão de que em apenas 1,5 segundo é possível alguém com arma branca (faca, machado, facão, espada) percorrer 6 metros e diminuir a distância entre ele e um atirador. O problema é que 1,5 segundo é o tempo que um bom atirador tem para sacar a sua arma e atirar duas vezes em um alvo!





A Regra em Si

No artigo traduzido por mim e publicado aqui no blog, foi exibido o resultado dos testes feito por Tueller e a conclusão dele.

A Regra dos 21 Pés de Tuller, diz que você atirador deve permanecer a uma distância mínima de 7 metros (21 Pés) de um possível agressor. Muitos desconhecem essa regra e acham que em um embate arma de fogo x arma branca a primeira sempre ganhará e o estudo de caso mostra que não.





Conclusão

Não subestime nunca uma faca ou espada!



Caso se interesse, existe um artigo de minha autoria onde eu traduzi o texto original do sargento Tueller, “How Close is Too Close?”. O link dele está aqui embaixo:



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